Labor news

2019-07-22 - Análise química de solo, A2P

Quer saber se a aplicação de calcário em profundidade via injeção pneumática é uniforme? Acompanhe nosso experimento! (Parte 2 - O resultado)

[vcex_button url="http://laborsolo.com.br/arquivos/infograficos/laborsolo-experimento-calcario.pdf" title="Veja o Infográfico" style="graphical" align="center" color="green" size="big" target="_blank" rel="none"]Clique aqui para ver o infográfico![/vcex_button]


Utilizamos o Cálcio como indicador da presença e da distribuição do calcário no perfil do solo. Ele é um bom indicador, pois, mesmo que ainda não tenha havido reação com o solo, o extrator químico utilizado no laboratório (Mehlich-3), por ser ácido, consegue extrair uma parte do cálcio ainda insolúvel na forma de calcário, e com isso nos evidenciar onde há presença do produto e onde não há.

Veja no infográfico abaixo como ficou a distribuição em cada amostra analisada. Observe como o calcário ficou extremamente concentrado, horizontalmente (no rastro das hastes) e verticalmente (de 25 a 35 cm). A distância entre as hastes é de 45 cm, então entre uma posição e outra (por exemplo, entre A e B) temos 22,5 cm, aproximadamente um palmo. E nas posições B e D (entre hastes) não há nenhum sinal do produto. Durante a própria coleta já era visível essa concentração (imagem abaixo).

Portanto, ao invés fazer uma distribuição homogênea que permitisse uma frente alcalina ao longo do perfil, o que a injeção fez foi criar filetes de calcário na camada de 25-35 cm de profundidade, espaçados horizontalmente de 22,5 em 22,5 cm. Em se tratando de aplicação de calcário, não se espera uma grande difusão lateral do produto, devido a sua baixa solubilidade. Sendo assim, a tendência é que esses filetes permaneçam na forma filetes pelos próximos anos. Talvez com alguma ação lateral, formando, “túneis” horizontais de alguns poucos centímetros de espessura, de forma que a variabilidade horizontal certamente permanecerá.

 

Mas, afinal, isso é de fato um problema? Pode ser que sim e pode ser que não. Acompanhe o raciocínio.

Do ponto de vista da planta, do sistema radicular, por um lado poderíamos dizer que sim, é um problema, pois o produto deveria estar distribuído homogeneamente, criando toda uma camada de solo corrigida e propícia ao bom enraizamento. Mas para isso seria necessário revolver o solo, para misturar suas partículas com as partículas do produto. Isso de certa forma prejudica a estrutura do solo, ainda que temporariamente. Com a injeção, em contrapartida, é possível colocar o calcário em profundidade (coisa que através da aplicação superficial é extremamente difícil), embora não da forma ideal (distribuída), mas sem causar grandes distúrbios à estrutura do solo, e ao mesmo tempo romper qualquer eventual camada compactada. Ou seja, temos uma típica “faca de dois gumes”, e a pergunta que fica é: o que é melhor? Ter o solo em subsuperfície homogeneamente corrigido e uma estrutura temporariamente prejudicada pela ação mecânica do revolvimento, ou ter filetes (bolsões) concentrados de calcário em subsuperfície e uma estrutura um pouco menos danificada?

Para o sistema radicular, no caso injeção o que vai acontecer é que ele encontrará duas condições de fertilidade completamente diferentes quando atingir a profundidade de 25 cm. Dos 25 aos 35 cm, no entorno dos filetes (campo de ação do calcário), haverá um degradê de fertilidade, em que no centro do filete haverá calcário ainda não solubilizado e, à medida que a distância aumenta a partir do centro, vai havendo uma redução do efeito do calcário, até atingir um ponto em que não há mais ação. Mais ou menos como acontece com a adubação em sulco, só que a diferença é que geralmente os fertilizantes são solúveis e o calcário não é.

No miolo dos bolsões haverá excesso de Ca e Mg, e insolubilização de P, Cu, Fe Mn e Zn; ao passo que entre os bolsões haverá um solo na condição em que estava antes da aplicação. Se estava ácido, continuará ácido, e nesse caso então provavelmente com carência de Ca, Mg, pH e P, e excesso de Cu, Fe Mn e Zn. Haverá, no entanto, um ponto no meio do caminho (nas bordas do campo de ação de calcário) em que muito provavelmente os níveis estarão mais próximos do equilíbrio e ali é possível que a raiz “se instale” para se alimentar, assim como faz em torno dos sulcos de fertilizante, ou do bulbo úmido em sistemas fertirrigados. E dessa forma, é possível que esses filetes funcionem como estoques de calcário que vão solubilizando aos poucos à medida que o Cálcio e o Magnésio das bordas forem sendo consumidos, servindo assim como uma calagem de liberação controlada. Isso já acontece quando o calcário é aplicado em superfície, pois a dose é sempre calculada para um perfil (seja 10 ou 20 cm, por exemplo) e a aplicação se dá de forma concentrada na superfície. A diferença é que, no caso da injeção, isso acontece em profundidade, onde geralmente há disponibilidade de água durante todo ou a maior parte do ciclo das culturas.

É provável que, nessa camada de 25-35 cm, haja uma concentração do sistema radicular em torno desses filetes, mas talvez, quem sabe, se manejarmos a acidez trocável (Alumínio) do restante do volume de solo com gesso, pode ser que não haja prejuízo ao desenvolvimento das raízes, até porque o espaçamento horizontal entre os filetes é consideravelmente estreito: é praticamente um filete por linha de soja.

Independente do aspecto biológico de que tratamos até aqui, é importante ressaltar um inevitável problema de gestão que essa prática de injeção pode provocar. Como ficará a representatividade das próximas amostras de solo para monitorar a fertilidade nessa camada? A injeção acaba criando uma variabilidade que não existia. E na próxima amostragem, dificilmente será possível identificar a posição dos rastros da haste, a não ser que se os tenha georreferenciado. Sendo assim, na amostragem, pela própria aleatoriedade que lhe é típica, se a amostra composta acabar contendo (sem querer) uma maioria de pontos dos rastros das hastes, os resultados de Cálcio, Magnésio, pH, por exemplo, serão consideravelmente maiores do que se houver uma maioria de pontos das entre-hastes. O mesmo problema que ocorre tipicamente com o fósforo, que, devido à baixa mobilidade no solo, às subsequentes adubações localizadas (em sulco) e ao mínimo revolvimento do solo, acaba apresentando uma variabilidade (horizontal e vertical) tão grande que raramente as amostragens representam com qualidade satisfatória o status desse nutriente no solo. Não é à toa que, em trabalhos de avaliação de quantidade de subamostras para compor amostras compostas, o fósforo é o que geralmente exige as maiorias quantidades. Não só maiores, mas não raro quantidades impraticáveis. Foi inclusive à luz dessa problemática que o Dr. Álvaro Vilela de Resende, Pesquisador em Fertilidade de Solo e Nutrição de Plantas da Embrapa Milho e Sorgo, questionou a prática de mapeamento do fósforo no solo em serviços convencionais de Agricultura de Precisão no artigo intitulado “Adubação com fósforo a taxa variável em superfície é de fato agricultura de precisão?”.

Assim, apesar dos possíveis benefícios que a prática da injeção de calcário possa trazer para as primeiras safras após a aplicação, como já discutimos, precisamos ter consciência de que os efeitos são temporários e uma hora precisaremos voltar lá e amostrar o solo para monitorá-lo, seja daqui a um ano, dois anos, não importa, e que teremos que enfrentar esse novo perfil de variabilidade. Como ficará a amostragem a partir de então? Talvez tenhamos que aumentar o número de subamostras. Talvez tenhamos que estratificar as camadas da subsuperfície, como fazemos para o fósforo na superfície, em que estratificamos o 00-20 cm em 00-10 e 10-20 cm. Talvez tenhamos que estratificar horizontalmente o perfil, e gerar uma amostra de rastro de haste e outra de rastro de entre-haste, como às vezes é feito na fruticultura, em que se gera uma amostra para a projeção da copa e outra para o meio da entrelinha. Enfim, o desafio de gestão da fertilidade do solo é real e sem dúvida terá que entrar na conta na hora avaliar a relação custo/benefício da prática de injeção.

Veja que estamos o tempo todo fazendo suposições. Embora sempre embasadas na dinâmica química que conhecemos, mas ainda assim são suposições. A ciência carece de trabalhos que evidenciem em detalhe o que acontece com esse tipo de aplicação de que estamos tratando. Sendo assim, continuaremos acompanhando a área e fazendo as medições necessárias para entendermos melhor os benefícios e as limitações dessa prática. Fique ligado e não perca os próximos posts.

Veja o infográfico: