2017-02-23 - Análise química de solo
Variabilidade Vertical e a Correção do Solo
Como comentado no post anterior, a variabilidade vertical é simplesmente ignorada hoje na maioria das "Agriculturas de Precisão tradicionais", seja por falta de conceitos técnicos ou da tentativa de viabilização financeira da atividade.
Neste e nos próximos posts vamos discutir algumas práticas agrícolas que ocorrem no dia a dia da agricultura que acabam passando despercebidas, mas que interferem nas decisões tomadas no campo e mostram a importância do diagnóstico preciso da fertilidade do solo, com foco na identificação da variabilidade dos nutrientes de acordo com a profundidade do solo.
Correção de solo
Vamos analisar a seguinte situação: Calagem em áreas de agricultura sob plantio direto, onde não há movimentação de solo, logo todo corretivo/calcário é aplicado em superfície.
Pergunta:
Será que as doses de calcário aplicadas nas áreas de plantio direto em superfície irão reagir uniformemente em toda extensão da área e na profundidade de solo desejada?
Antes de responder, vamos a alguns fatos:
1) Todas as metodologias oficiais de correção de solo hoje no Brasil são "calibradas" para a camada de 00-20 cm, portanto teoricamente uma dose de 4 ton/ha significa 3 toneladas de produto distribuídas uniformemente em 20 cm de solo;
2) A solubilidade do Carbonato de Cálcio (componente predominante dos calcários agrícolas) é de 0,16 g/L. Ou seja, quimicamente o calcário é quase insolúvel;
Resposta:
As variáveis para que essa reação ocorra uniformemente em toda a área, na camada de 20 cm de profundidade, são muitas e difíceis de mensurar mas podemos dizer com certeza que geralmente isso não ocorre.
Pensando no exemplo à cima:
- Dose: 4,0 ton/ha de calcário calculada para 20 cm de espessura de solo e aplicada em superfície. Levando em consideração ambos os fatos apresentados, teríamos 2 consequências:
1) Supercalagem na camada superficial;
2) Subcalagem nas camadas mais profundas;
Pensando que de forma imediata o corretivo aplicado reagiria apenas nos primeiros centímetros de profundidade fazemos algumas suposições:
- Se a reação ocorrer apenas nos primeiros 10 cm teríamos aplicado equivalente a 8,0 ton/ha;
- Se a reação ocorrer apenas nos primeiros 5 cm teríamos aplicado equivalente a 16,0 ton/ha;
As consequências são o não cumprimento do objetivo da calagem (elevação do pH do solo e fornecimento de Cálcio e Magnésio no perfil do solo), indisponibilidade de alguns micronutrientes para a absorção devido ao excesso de pH em superfície e consequentemente o aumento da variabilidade vertical da fertilidade do solo.
Além disso o aumento excessivo do pH nas camadas superficiais pode induzir a dispersão das argilas no solo, acarretando em problemas físicos irreversíveis.
Vejamos o exemplo abaixo:
A análise acima é de uma fazenda na região de Cornélio Procópio-PR com Sistema de Plantio direto há 15 anos aproximadamente. Ao longo dos anos vêm aplicando calcário dolomítico em superfície a cada 3 anos. Com a amostragem estratificada do solo, 0-10 cm, 10-20 cm e 20-40 cm podemos identificar e diagnosticar a variabilidade dos atributos químicos do solo conforme a profundidade indicada, com destaque para o Cálcio (Ca), Magnésio (Mg) ,pH e Saturação de Bases (V%), atributos estes que variam diretamente com o efeito da correção. Podemos observar claramente a concentração destes parâmetros no horizonte de 0-10 cm e com isto propor as intervenções necessárias.
Será que neste caso, uma análises comum 0-20 cm seria eficiente? O resultado expresso pela análise 0-20 cm estaria correto? Será que não perderíamos informações relevantes que refletem diretamente nas decisões a serem tomadas?