2014-02-25 - Corneta do Agro, Análise química de solo
Cobertura do solo: benefícios e consequências
Uma reportagem do programa Tecnologia do Campo do portal RuralBR (clique aqui para ver o vídeo) apresentou a prática de cobertura do solo, mostrando produtores de frutas e grãos, que utilizam a técnica, que consiste na cobertura do solo por matéria orgânica oriunda de podas de árvores e plantas selecionadas para este fim.
Os argumentos para seu uso dizem respeito ao impacto das gotas de chuva no solo, a radiação solar, evaporação, infestação de plantas invasoras e mineralização do solo a partir da matéria orgânica.
Do ponto de vista da Física do SOLO, é perfeito os argumentos apresentados e, o que é mais importante, a funcionalidade desta prática no impacto da diminuição das gotas de chuva sobre o solo; a amenização térmica das camadas superficiais do solo (10 cm) e, como consequência a retenção de água nessa camada, por diminuição da temperatura.
Há uma outra questão nesse manejo, que é a consequência na química do ambiente de produção desse solo, ou seja, a presença de potássio (K+) livre nessa palhada. Por ocasião de chuvas sobre esse colchão de palha (mulching), o K é totalmente solúvel nessa água de lixiviação e, ao infiltrar nas camadas superficiais, há uma redistribuição desse elemento na solução do solo (10 cm) cujo teor dependerá da capacidade de infiltração da água no solo (que pode ser medido) e, como resultante, causar o que chamamos de salinidade imediata, que pode ser avaliada pela análise do Extrato de Saturação em amostras do solo.
Essa salinização induzida, tem efeitos deletérios no crescimento e desenvolvimento das plantas, sendo que em casos extremos, as raízes perdem água para o solo, causando o efeito de desidratação. Esse efeito será tanto mais drástico, quanto maior for a condutividade elétrica (CE20ºC) medida na solução do solo. Além desse fenômeno direto, por excesso de palha, a presença de altos teores de K+ pode induzir a desagregação de argilas do solo, causando compactação física na superfície. Nessa condições, tanto o solo, quanto as plantas, necessitarão de muito mais água para mitigar os efeitos da causa do problema.
Como os brasileiros não avaliam nada, observam muito pouco e não medem praticamente nada, a sorte sempre é lançada a cada ano que passa, tentando produzir satisfatoriamente, por conta do acaso, sem ter a noção do tamanho do risco que estão correndo com seus investimentos.