Labor news

2014-01-16 - Corneta do Agro

Depois da Helicoverpa armigera chega a Falsa-medideira: onde está o problema?

O texto de hoje é mais uma Corneta do Agro, que vai atingir em cheio grande parte dos agricultores, engenheiros agrônomos, revendedores de insumos e técnicos agrícolas! Recentemente uma reportagem divulgada no Portal Aprosoja MT expõe a preocupação dos agricultores com a Falsa Medideira. A seguir apresentamos a reportagem comentada pelo Dr. José Carlos Vieira de Almeida.

É de fato lamentável o comportamento geral da classe agronômica frente aos problemas que assolam ano a ano as lavouras pelo país. Uma hora é a ferrugem, outra hora é o míldio, outro ano é a Helicoverpa, agora chegou à vez da falsa-medideira.

E assim, safra após safra, vamos apagando fogo e ninguém ataca o real problema que é a inépcia dos agrônomos e o achismo dos produtores para encontrar soluções baseadas em nada.

Conforme o texto, segundo Nery Ribas, diretor técnico da Aprosoja, “Por conta da soja ter vegetado bem, e a lagarta atacar a parte inferior da planta, fica difícil o inseticida chegar até a área de ação, complicando o controle.” Ainda segundo Nery, importante também é observar se a praga atingiu o nível de controle. “Por isso novamente reforçamos que o monitoramento é a melhor medida de prevenção.”

Ora, será que a soja só vegetou bem este ano? A presença da praga nada tem a ver com vegetação ou não. A presença da praga é puramente desequilíbrio ecológico, fato que a classe agronômica nunca ataca ou por desconhecimento ou por negligência mesmo, uma vez que, o comércio de produtos fitossanitários é o grande filão do agronegócio. Assim, ao invés de atacar o problema de forma sistêmica e com planejamento, todos saem à cata de inseticidas mais ou menos eficientes para o corre-corre do apaga fogo. As empresas de defensivos agradecem penhoradamente e o problema não se resolve. Qual será a praga da vez no ano que vem?

De acordo com o produtor do município de Canarana, Marcos da Rosa, uma das explicações para a grande incidência da lagarta na propriedade é o clima com grande incidência de precipitações durante as aplicações. “Tem chovido bastante e, ás vezes, não dá tempo de o defensivo agir na praga. Estamos tendo que entrar na lavoura de sete em sete dias para fazer aplicações, e isso, na soja florescendo.”

Se Canarana é no Mato Grosso, a pergunta seria: Em que ano agrícola que as chuvas não são abundantes por lá? O que se ouve todo ano é que as chuvas estão intensas no MT. Que conclusão idiota é esta que as chuvas favorecem lagartas. Parece que o consenso é exatamente o oposto. Clima seco é que favorece lagartas, segundo os mais variados Manuais de entomologia. É que como ninguém sabe como resolver o problema e mesmo como surgiu, então se deve eleger um culpado. Assim, é fácil culpar as chuvas. Caso fosse o inverso culparíamos a seca. E o mundo caminha em frente aguardando qual será a praga do ano que vem?

O produtor e presidente do Sindicato Rural de Campo Novo dos Parecis, Alex Utida, observa que talvez alguns princípios ativos podem está perdendo a eficiência. “Eu usei diferentes defensivos e notei que alguns atingiram sua eficácia, outros nem tanto, dificultando o controle da praga.”

Baseado em que premissas estatísticas esse senhor pode concluir isto? Em que livro ele estudou estas possibilidades? Mais uma vez prevalece o achismo. Ele achou que alguns ingredientes ativos foram bons, outros não, baseado apenas em observações empíricas. Deveria então, pelo menos dizer quais foram os melhores para orientar os filiados do seu sindicato.

Na região Sul o aumento da incidência da lagarta ocorreu no período de fim de ano quando, possivelmente, o monitoramento pode ter diminuído, explica Osvaldo Pasqualotto. “Apesar disso, os produtores na região Sul estão bem preparados e conseguiremos fazer o controle.”

Parabéns aos agricultores da região sul. Pelo jeito são mais preparados que os demais. Preparados em quê? O seu arsenal de inseticidas deve ser diferente dos demais, pois conseguirão fazer o controle. Estes deveriam indicar para seus colegas do norte, pois estes estão mais despreparados e penso ficariam agradecidos pelas dicas.

Devido ao monitoramento e cuidados dos produtores diante dos alertas, a temida lagarta Helicoverpa ssp. dá sinais de estarem sob controle e, em algumas regiões, seus efeitos não foram tão notados. “Na região sul tivemos baixa incidência da Helicoverpa devido ao controle e monitoramento intensivo diante dos vários alertas da Aprosoja”, pontua o produtor de Rondonópolis, Osvaldo Pasqualotto.

Que legal, parece que a famigerada Helicoverpa sumiu do Mato Grosso este ano. Para onde será que ela foi?

Prezados, há alguns anos atrás era uma epopéia tentar encontrar lagartas a partir do mês de janeiro quando estas começavam a se proliferar devido aos veranicos, pois havia no ambiente esporos de um fungo altamente eficiente na infecção destes insetos imaturos chamado Nomuria rillei. Além desta espécie, um outro fungo muito eficiente, principalmente para Helicoverpa era a Boveria bassiana.

A pergunta é: Onde estão estes fungos que não mais controlam as espécies de lagartas como faziam antigamente? Se bem me lembro, a praga de soja mais importante era a Anticarssia gematallis, ninguém falava em Helicoverpa e Pseudoplusias, estas embora existissem em alguns locais com maior incidência, no entanto eram muito mais raras devido ao controle imposto pelos fungos. Onde foi parar a Anticarsia? Pelo jeito deixou de ter importância, pois não se fala mais nela.

A resposta é simples. Os fungos se foram ou diminuíram no ambiente devido ao uso desenfreado de fungicidas para o controle da ferrugem, pois sabemos que os produtores adoram aplicar fungicidas.

Com doença ou sem doença da-lhe venenos. Isto é uma constatação, pois muito antes das infestações das ferrugens não se encontram mais produtos no mercado para serem adquiridos. As empresas produtoras criaram a teoria do caos na cabeça dos produtores. Comprem antecipadamente, pois lá na frente vai faltar. Não haverá produto e você vai ficar na mão. O que se vê, é uma corrida desenfreada às lojas para adquirir fungicidas para as tais aplicações preventivas. Se precisar, bem, se não precisar aplica-se do mesmo jeito pois, o produto já foi comprado e para não perdermos o investimento, aplica-se de qualquer forma.

Acontece que fungicidas matam fungos sem discriminar entre espécies patogênicas ou benéficas.

Este foi o cenário que criamos. Os agrônomos estão nas revendas com seus receituários em punho, prontos a receitar, pois muitos são comissionados e precisam vender. No mesmo balcão o marketing pesado das empresas produtoras prontos a oferecer a salvação. E do outro lado o agricultor incauto louco para comprar com medo de ficar sem o produto quando efetivamente precisar.

E assim o barco anda anos após ano, e a ladainha é a mesma.

O que efetivamente criamos foi um desequilíbrio ecológico brutal em função do despreparo da classe agronômica para o problema e o afã dos produtores em resolver seus problemas de pragas e doenças que não param para avaliar e planejar. O negócio é aplicar. Não é a toa que o Brasil se transformou recentemente no maior consumidor de agrotóxicos do mundo.

Os agrotóxicos ou defensivos agrícolas são parte de uma tecnologia de grande valia para o sistema agrícola, pois podemos dividir o desenvolvimento do mundo em antes e depois dos defensivos agrícolas. No entanto é uma tecnologia que deve ser usada de forma responsável tanto pelos recomendantes quanto pelos usuários. O que nos últimos anos não tem ocorrido. Vide o MIP (Manejo Integrado de Pragas), este sistema sumiu do vocabulário dos produtores. Hoje em dia raramente é feito. Devido ao aparecimento de inúmeras empresas de defensivos genéricos, o preço médio dos produtos caiu, e com um saco de soja a setenta reias, ficou muito barato os tratamentos,assim como o agricultor é pragmático, para não dizer que prefere a lei do menor esforço, é muito mais fácil sair aplicando produtos indiscriminadamente sem respeitar os preceitos mínimos da técnica agronômica e deu no que deu, um desequilíbrio ecológico generalizado com o ressurgimento de pragas antes mantidas sob controle pela própria natureza.

Este é o preço que se deve pagar pela ignorância dos agentes responsáveis pela produção agrícola. Tanto da parte dos produtores quanto da classe agronômica e dos agentes do agronegócio.