2013-07-23 - Corneta do Agro, Análise de fertilizante mineral
NPK: mocinho ou vilão?
Conforme comentamos aqui no post da semana passada, essa semana dedicaremos um espaço no Labor News para discutir o uso do NPK, principalmente, diante das informações do aumento da importação e da antecipação da compra deste e de outros fertilizantes e adubos para a safra de verão 2013/2014. Sabemos da importância do uso de corretivos e fertilizantes para o nosso solo, mas até que ponto? Será que o solo de sua propriedade ainda está precisando de NPK? Será que de mocinho ele não está se tornando um vilão? Vamos refletir um pouco...
Baseados em que querem entupir os solos de N, P e K?
Se pararmos e avaliarmos mais demoradamente os agricultores que efetivamente fazem análises com a finalidade de avaliar a fertilidade dos solos e não somente para levar um papel ao banco para fazer o financiamento, vai se verificar que grande parte dos solos, principalmente na região centro sul estão entupidos de potássio, muito acima dos níveis aceitáveis no equilíbrio de bases, além de muitas áreas com o mesmo comportamento em relação ao fósforo. No entanto, mesmos estes, devido ao medo de ficar sem o produto, pois já foi colocado aos sete ventos que devido à "logística" poderá faltar o produto, principalmente em regiões mais distantes dos portos como os cerrados do centro oeste, por exemplo.
No entanto, ao se avaliar as análises dos solos de todo o país o que efetivamente falta nos solos é cálcio. Ninguém importa este elemento, uma vez que, ela já existe por aqui, não precisa ser importado. A principal fonte é o calcário, que não movimenta bilhões de dólares. Diga-se de passagem, algumas minas até tem dificuldade para vender este insumo no país, pois sempre coloca o peso do seu valor real no frete, o que geralmente encarece o produto.
Outro ponto: não adianta colocar N, P ou K se não houver cálcio, além da própria correção de pH que o calcário impõe ao solo.
O agricultor é altamente refratário ao uso do calcário, sempre o acha caro e neglicencia a calagem. Por outro lado, jamais se esquece do “adubo”, "se não adubar não dá".
O uso do N, P, K nos foi imposto pelo colonialismo americano. O Brasil como sempre copiou, no passado, o que é bom para os Estados Unidos é bom para nós. Nossos professores faziam sua pós-graduação por lá e aprenderam isto. Logicamente nos ensinaram. Compramos a técnica sem discussão. Se lá se usa N, P, K e é bom, também será bom aqui. Ressalta-se que nas análises de solos nos EUA só se fazem as determinações de fósforo e potássio. Os americanos nem sabem que existem o cálcio e o magnésio.
Acontece que lá praticamente não existem solos ácidos. Então não há porque se fazer calagem.
E aqui? Todo o Brasil é ácido, e em todo lugar tem alumínio. Assim, de que adianta entupirmos tudo com fósforo e potássio sem as devidas correções de acidez, cálcio e magnésio. Isto sem falar em nitrogênio.
Este comentário é para se refletir o que a Agronomia empírica em nosso país vem fazendo com a agricultura. Usamos técnicas alienígenas para fertilização dos solos. Negligenciamos o uso de corretivos. Fazemos muito mal a conservação dos solos, basta ver a cor dos rios após qualquer chuvinha, por causa do plantio direto onde se retiram os terraços com a finalidade de facilitar a vida do agricultor, é mais fácil para aplicar os defensivos e para plantar morro abaixo contrariando todos os preceitos da conservação dos solos, imposta no passado a duras penas. Usamos defensivos indiscriminadamente, a cada dia se inventam produtos milagrosos, que do nada, aumentam as produtividades das lavouras.
O resultado disto é um processo cada dia maior de desertificação, veja o caso do nordeste, de pastagens degradadas, da atividade sucroalcooleira, que nunca antes neste país sofreu tanta degradação graças ao N P K. Há um grande número de usinas em processo de falência. Nunca se viu tanta doença nas lavouras. Há ferrugens de todas as cores e matizes. Insetos que só comiam soja, agora ampliaram seu cardápio.
Tudo isto por causa da fertilidade dos solos que é o principal fator de produção e nunca é levado a sério, porque é muito fácil fazer adubação. Toma-se uma tabelinha qualquer ou usa-se um programinha qualquer feito pela “pesquisa” e tome adubo.
"Então não perca tempo. Vamos adubar." - As consequências virão no amanhã.