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2022-02-17 - Análise física do solo

Cálcio no perfil do solo, um tema que precisa ser visto em toda a sua complexidade

Cálcio no perfil do solo, um tema que precisa ser visto em toda a sua complexidade

O Cálcio é um dos nutrientes mais importantes para as plantas. Além de ser um grande sinalizador dentro da planta, atuando como o pontapé de inúmeras reações de resposta aos estímulos do ambiente, é o principal nutriente contido na parede celular, que é formada, em grande parte, por pectato de cálcio. Sendo assim, não existe célula vegetal sem Cálcio. Não existe expansão celular sem Cálcio.

Que o Cálcio é importante e essencial todo mundo sabe. Já é ponto pacífico. A questão é o quanto de Cálcio é preciso ter no solo, no perfil. Historicamente temos visto que as áreas de maior rendimento, além de terem níveis adequados nas camadas superficiais, têm pelo menos 20% de Cálcio na CTC Total abaixo dos 40 cm. 

Isso ocorre devido ao fato de o Cálcio ser um nutriente pouco móvel dentro da planta, de forma que, para as raízes crescerem, elas precisam de Cálcio no local exato de crescimento. Não tem como a planta absorver em outro canto (p.ex. na superfície, onde a disponibilidade é maior) e translocar para a ponta das raízes, justamente porque a mobilidade do Cálcio dentro da planta é muito baixa e não favorece esse tipo de estratégia. Portanto, as raízes só crescem por onde tem Cálcio. 

Mas, no fundo, os altos rendimentos observados nessas áreas em que o Cálcio é abundante em subsuperfície não se deve exclusivamente ao Cálcio, mas principalmente ao maior acesso à água. Ora, uma vez que o solo seca de cima para baixo após uma sequência de dias ensolarados, quanto mais profundo for o sistema radicular, mais água as plantas terão à disposição. Isso sem falar no maior volume de solo explorado como um todo e o fato de que essas camadas são grandes reservatórios de nutrientes facilmente lixiviáveis, como Nitrato, Sulfato e Potássio.

Mas atenção: antes de sair aplicando Cálcio cegamente, visando metros e metros de perfil de solo, o mais prudente é, antes de mais nada, conhecer a capacidade de armazenamento de água do solo, cruzar com a demanda hídrica da cultura na época de maior consumo e maior impacto na produtividade (geralmente o enchimento de grãos) e com o número de dias sem chuva mais provável na região, e com isso descobrir quantos centímetros de perfil você efetivamente precisa. Afinal, convenhamos, construir perfil não custa barato e não acontece da noite para o dia. Então, buscar um perfil além do necessário, pode ser desperdício de tempo e dinheiro.

A demanda hídrica das culturas no período crítico é um dado relativamente fácil de se obter. No caso da soja, por exemplo, esse período é o enchimento de grãos e a demanda pode chegar a 7-10 mm por dia. A capacidade de armazenamento de água do solo, por sua vez, corresponde ao volume de microporos do solo, e é facilmente obtida através de uma Análise Físico-Hídrica, que fornece, ainda, outros atributos importantes para o desempenho das plantas, como macroporosidade, densidade, grau de compactação, areia, silte, argila e, por fim, calcula metas de perfil de solo para diferentes períodos de veranico.

De posse da meta de perfil, aí sim podemos traçar um bom plano de amostragem estratificada, que forneça um bom diagnóstico, e uma boa estratégia racional de construção desse perfil, passando, obviamente, pela adição de cálcio, sempre que necessário. A fonte mais comum, e bastante efetiva para essa finalidade, é o gesso agrícola, que atinge rapidamente as camadas subsuperficiais aportando Cálcio, Enxofre e de quebra neutralizando qualquer Alumínio tóxico (Al3+) que estiver pela frente.

Além da falta de Cálcio e de níveis tóxicos de Al3+, é preciso estar atento à compactação, que também pode limitar sobremaneira o aprofundamento do sistema radicular. Os principais efeitos da compactação, que podem acontecer em conjunto ou isoladamente, são: redução da oxigenação (pela redução da macroporosidade para valores inferiores a 10%), aumento da densidade e aumento da resistência à penetração, além da própria redução da capacidade de armazenamento de água disponível (pela redução da microporosidade), que faz com que um enraizamento ainda mais profundo seja necessário.

 

 Caso da Fazenda Mutuca

Com o programa A2P da Laborsolo implementado em praticamente 100% das áreas da Fazenda Mutuca, em Arapoti-PR, e amostragens até 1 metro de profundidade, percebemos que, abaixo de 40 cm, praticamente todas zonas de manejo de praticamente todos os talhões têm saturação de cálcio de cerca de 30%.

Tomando alguns talhões como exemplo, análises físico-hídricas mostraram que, para suportar 10 dias sem chuva durante o enchimento de grãos, sem redução da produtividade, o enraizamento da soja precisa atingir pelo menos 70 cm de profundidade. Ou seja, com saturações de Cálcio ao redor de 30% até 1 metro, nenhuma restrição é esperada em relação a esse nutriente. Isso já é mais de meio caminho andado para um bom enraizamento e explica, em parte, os elevados rendimentos que são comuns de serem observados nessa propriedade.

Esse é um bom exemplo de como aliar a físico-hídrica do solo com a química para fazer um bom diagnóstico e estar bem amparado para estabelecer os investimentos necessários em uma área. Afinal, só o que se mede pode ser melhorado e gerenciado.

Abaixo você confere o bate-papo entre o Diretor de Novos Negócios da Laborsolo Conrado Fioretto e o Engenheiro Agrônomo André Cebulski.